terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Ladrões de Bicicleta - 1948

Cineasta: Vittorio de Sica
Gênero: Drama
Origem: Itália
Áudio: Italiano
Legendas: Pt-Br



Salve! Terça-feira de carnaval, e cá estamos nós, os viciados em filmes, mergulhando em mais um clássico dos anos 40. Vamos a sinopse e um comentário posterior.

Sinopse: O filme se passa logo após a Segunda Grande Guerra, com uma Itália destruída e o povo passando necessidade. Ricci (Lamberto Maggiorani) consegue um emprego após muita espera. Para começar a trabalhar como colador de cartazes no entanto Ricci necessita de uma bicicleta, a qual ele penhorou tempos antes, devido as necessidades de sua familia. Sua esposa Maria (Lianella Carell) consegue dinheiro vendendo seus lençois e forros, possibilitando que ele realize o seu trabalho. Contudo, logo no primeiro dia de trabalho Ricci é furtado, enquanto colava um cartaz. O furto não poderia ser mais desesperador, já que levam justamente a tão necessária bicicleta. Movidos pelo desespero ele e seu filho o esperto e pequenino Bruno (Enzo Staiola) vão a busca de encontrar o ladrão, conhecendo assim o mercado negro das bicicletas.

É importante focar que a década de 40 na Itália é muito especifica em narrar as consequências pós guerra, todos os vestígios que de certa forma modelavam uma sociedade abalada, massacrada, marcada. Surge então, como bandeira de uma época o Neo Realismo, estilo que procurava abordar justamente essas consequências, tendo como base de seus filmes o concreto, o que está acontecendo no momento, partindo dessa premissa não para criar, mas para abordar e transmitir. De Sica, transformava tais fatos em sentimentos, o que é típico até hoje do cinema, da poesia rude na tela, italiana. Se esse formato é hoje aplaudido, por nós, cinéfilos, na época de De Sica, todos do movimento neo realista sofriam com represálias, por mostrarem de forma tão amarga, a realidade do país. Em ladrões de bicicleta, vemos uma nação perdida, desestruturada, aonde seus filhos buscam emprego a qualquer custo, para qualquer função, vemos também o mercado negro, formas de negociação ilícitas  que passavam despercebidas por um governo que não reagia a crise. Percebemos até mesmo o desespero humano, de seguir qualquer prática, que lhes garantisse a sobrevivência. 

Ricci é o retrato desse povo perdido, pós guerra, com a figura patriarcal daquele que tem de enfrentar os problemas por sua família, ou pelos olhos famintos de seu filho Bruno é também a expressão, de pessoas que esperavam por um futuro melhor, sonhadores, que não enxergavam soluções, mas que agarravam desesperadamente a qualquer chance que lhes fosse dada. Fui dramático? De Sica interage dessa forma ao abordar Ladrões de Bicicleta, era preciso comover e agitar um país, algo que o governo não achou tão conveniente. É possível assim entender o motivo do neo-realismo ter durado tão pouco, a maquina não se sentiu a vontade com tanta exibição a fragilidade, e nomes como Fellini, De Sica, Luchino Visconti precisaram migrar suas mensagens no cinema, a custo da ira governamental. O caos era tanto na época, que muitos filmes do movimento, foram  rodados a céu aberto, já que muitos estúdios eram ocupados por desabrigados. Um fato que valoriza ainda mais roteiros e a direção naquele periodo, é a utilização de amadores para boa parte do elenco. Até mesmo o pequeno Enzo, que tem aqui uma atuação magnifica, é um mero amador que nunca havia participado de um filme ou algo do gênero. No entanto, se fazia necessário, já que as condições financeiras para se realizar um filme eram praticamente escassas. 

Em meio há miséria, o filme ainda nos mostra os contrastes sociais, na cena em que Ricci leva Bruno a pizzaria, aonde o menino se esbalda com um prato modesto, pago com o pouco dinheiro que sobrará do empenho dos lençóis, enquanto em uma mesa próxima  pessoas aparentemente melhores de vida, se esbaldam com pratos que Ricci jamais poderia comprar.A crise não impede, que poucas pessoas ainda se destaquem, transformando a disparidade ainda maior, já que poucos são os abastados afetados, contudo os pobres, esses são os alvos da miséria continua e degradante. Contudo, a alegria do garoto em comer um pão com queijo, nos aguça o sentido de que nós seres humanos podemos encontrar a felicidade em pequenos e simples momentos da vida, em meio a tantas atribulações, o que ta um toque poético, sem fugir da realidade.

Pouco tenho pra falar a nível tecnico, mas a de se reconhecer o trabalho magnifico de fotografia. Com poucos recursos e filmado a céu aberto como já citado, filme consegue se valer da iluminação natural em boa parte das tomadas, em nada comprometendo. As atuações de meros desconhecidos também vale comentário positivo Lamberto e Enzo são espetaculares, comoventes, principalmente em uma cena no final do filme, que não me atrevo a descrever, para não estragar uma boa surpresa da trama.

Misturando e contando a sua vista a realidade da época, De Sica nos comove com a vida de Ricci, passeando por cenas de esperança, tais como quando ele sai com sua bicicleta para o primeiro dia de trabalho, todo orgulhoso, tal como o desespero que encerra o climax da trama. Ladrões de Bicicletas, é a história marcada pela dura vida daqueles que sobreviveram em todos os aspectos aos prejuízos da guerra. Bom filme!

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